sábado, 21 de maio de 2011

CONTOS DO MUNIR - 64

O TEMPO E PESSOAS
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Parte 3
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JOÃO LUIZ
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João Luiz é físico, formado no MIT, doutorado em Harvard. Professor catedrático da USP, consultor do IMETRO, do Instituto de Pesquisas da Marinha, da Petrobras, da Vale e de mais algumas grandes empresas. Aprofundara seus estudos em nanotecnologia.
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Um problema surgiu na Marinha de Guerra, por ocasião do rompimento do acordo militar de cooperação com os USA.
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Os detectores de hidrogênio, gás altamente explosivo, quando em concentração elevada na atmosfera, esgotaram sua vida útil a bordo dos submarinos brasileiros de origem americana.
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Os comandantes, com razão, se recusavam a mergulhar, a Marinha Americana se negava a enviar sobressalentes. A Armada Brasileira se viu privada de sua Força mais ofensiva.
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Realmente, o perigo ameaçava. As cargas das baterias, ocasião em que se dá a maior liberação de gás, foram limitadas. A explosão recente de um dos reatores nucleares no Japão alarmara ainda mais os submarinistas.
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João Luiz foi chamado. Com brilhantismo criou um protótipo de fácil execução pelo Arsenal da Marinha. Os submarinos voltaram a operar.
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Os americanos vinham acompanhando, acreditavam na dependência brasileira, era uma oportunidade de revigorar o acordo desfeito unilateralmente pelo Brasil.
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O propósito maior: a venda de novos submarinos.
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A atenção deles voltava-se agora para o físico que solucionara o problema em tão breve tempo, com uma solução simples e menos dispendiosa. Resolveram marcar de perto João Luiz. Conseguiram que fosse contratada como sua assistente, uma antiga colega do MIT, na verdade, a serviço do aparelho militar dos USA. A idéia era recrutá-lo para a NASA.
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A moça não chegava a ser espiã, seu interesse maior era trabalhar com João Luiz a quem admirava como cientista. Era jovem, bonita, falava corretamente português brasileiro, alem de mais três idiomas. No campo das pesquisas, interessava a João Luiz sua fluência em japonês e mandarim. Passou a ser sua companhia permanente em palestras, seminários e na elaboração de papers.
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João Luiz era casado com a diretora de um colégio, mulher culta e elegante. Ela despertava a atenção, e sabia disso, os comentários que recebia eram de elogio à sua beleza e ela vaidosa, sorria discreta com os olhos.
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A proximidade maior do físico com sua assistente, como previsto pelos que a haviam indicado, tornara-se um jogo perigoso de xadrez. Levou quase um ano para que João Luiz passasse a notá-la como mulher, apesar dos gestos e insinuações sutis que ela provocava.
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Viajaram juntos a São Paulo, para um seminário e se hospedaram em um só quarto como marido e mulher.
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João Luiz esquecera no quarto do hotel sua agenda, o gerente querendo ser gentil, telefonara à sua casa e comunicara a verdadeira esposa que a enviaria por sedex. Embora o telefonema não fosse explicito, ela entendeu o que se havia passado.
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Ao regressarem de carro, João Luiz e agora sua querida, e assistente, foram colhidos pela fatalidade, um caminhão de entregas na contramão, destruiu na colisão o carro deles, a moça teve morte instantânea. João Luiz com vida levou horas para ser retirado das ferragens retorcidas. Houve tempo para que sua esposa chegasse ao local do acidente e providenciasse sua remoção para a UTI.
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Oito meses se passaram, as intervenções cirúrgicas se sucediam, não sofrera danos cerebrais, sua cabeça protegida, por uma dessas ironias do destino, pelo corpo da jovem.
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A esposa, nesse tempo, ao seu lado.
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João Luiz recuperou-se com sequelas que o impediam de caminhar normalmente, a mulher ajudando-o, a expressão grave, guardava a mágoa profunda da lembrança de ter visto os amantes abraçados inertes, por ocasião do desastre.
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Quase um ano depois, João Luiz retornava a sua vida quase normal, permanentemente acompanhado por um enfermeiro que o amparava, agora duas vezes físico, em ciências e dependência.
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O casal se separara.
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A diretora voltara para o colégio, trilhava seus antigos caminhos e sorria não mais só com os olhos.
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Foi quando a conheci.
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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