terça-feira, 12 de julho de 2011

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG-O RESTAURANTE (cap. 2)

O RESTAURANTE

Capítulo 2

No sábado seguinte, vim preparado para não deixá-la escapar e fiquei mais atento. Deixei a conta paga previamente, para poder levantar-me com mais rapidez. Assim que ela fez menção de se levantar, eu fui atrás. Consegui dobrar aquela mesma rua logo em seguida a ela. O que vi quase me fez cair ao chão de susto. Ela estava desaparecendo, como fumaça! Tentei segurá-la e agarrei o ar. Acho que disse um palavrão. Nada falei com ninguém, pois com certeza achariam que eu fosse completamente pirado.
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No sábado seguinte ela estava lá de novo. Mal me viu, levantou-se e veio sentar na minha mesa. Ela , linda como nunca, disse sussurrando:
- Eu lhe devo uma explicação. Você viu coisas que não deveria ver, mas sabemos que você é confiável e correto e pode até nos ajudar.
- Como sabem ao meu respeito e quem são vocês? - Perguntei.
- Ora, Marcos, para nós é fácil. Sabemos até como é a sua cueca, que por acaso hoje é de algodão azul marinho. Você pode me chamar de Bliza. Somos de outro planeta.
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Gelei, do cocuruto ao dedão do pé, mas consegui dizer:
- Carácoles! Você me convenceu! Eu já estava achando que fosse uma pegadinha, mas além daquele efeito especial do sábado anterior, ninguém a não ser eu mesmo, saberia que minha cueca é mesmo de algodão azul. Como vocês conseguem?
- Ora isso não é nada de mais! Nós enxergamos através das suas roupas além de lermos sua mente!
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Lógico que fiquei bastante incomodado com aquele olhar que agora para mim tinha outro significado, mas ao mesmo tempo, o que estava acontecendo era um dos sonhos de minha vida. Sempre esperei que uma coisa maluca dessas acontecesse comigo. Bliza continuava a sua história:
- Desde que um de nossos agentes esteve aqui no ano passado, esse restaurante virou uma atração para gente de meu planeta Sfiga, que é o quinto da estrela que vocês chamam de Betelgeuse. A comida aqui aos sábados, é simplesmente inigualável em qualquer planeta, pois vocês usam ingredientes que não existem em parte alguma a não ser aqui! Esse feijão preto, essa carnes, as fatias de laranja e a farofa. Hummmm!
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Ao dizer isso seus olhos ficavam com um brilho que acentuava aquele seu estranho olhar.
- Olhe bem! Continuava ela, apontando para um homem – Aquele ali também é de Sfiga, e um de meus amigos. Acho que como a notícia da boa comida se espalhou, vários outros vêm de outros sistemas ainda mais longínquos. Temos meios de transporte que fazem essa distancias uma brincadeira.
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Eu pensava comigo mesmo:
"Eu sabia que eu tinha bom gosto, mas fui escolher logo o melhor restaurante, não do Rio, nem do Brasil, mas do Universo! Quase morri de satisfação!"
- E o que vocês querem de mim?
- Primeiro, manter absoluto segredo sobre tudo que você já sabe. Haverá compensações. E que você nada diga ao Pedro e a Patrícia. As consequências você pode imaginar quais seriam.
- É claro! Ou vocês acham que eu sou doido? O preço iria às nuvens!
- Depois queremos que você, como amigo deles, faça com que eles pensem nas receitas, para que possamos copiá-las por telepatia. Assim poderemos reproduzi-las em Sfiga. Faremos uma cadeia de restaurantes que nos deixará riquíssimos. Você já percebeu que somos apenas investidores que procuram uma boa aplicação para o seu capital?
- Não acredito! Vocês então são capitalistas? Eu tinha esperança de que algum gênio criasse algum sistema econômico mais avançado que o nosso. Por falar nisso, nos seus planetas vocês todos parecem, humanos; não é uma coisa estranha? Aliás, você para mim é a mulher mais linda que eu já vi. Não poderíamos nos desligar aí da sua turma e...

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Ela não me deixou terminar!
- Você anda vendo muitos filmes. Não há a menor chance de acontecer algo entre nós! Nós podemos nos parecer com qualquer forma de vida, de qualquer planeta. Isto faz com que as pessoas não se assustem. Para você eu pareço bela, mas nossa aparência verdadeira, tanto a minha para você, como a tua para nós, é a de monstros asquerosos.
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Vocês podem imaginar como fiquei decepcionado! Respirei fundo e me lamentando bastante disse:
- Tudo bem então! E no que mais posso ajudar? Isso que vocês me pediram até agora é muito simples. Acho que tem algo mais, ou não?
-Tem sim! Queremos que você seja nosso guia gastronômico. Queremos conhecer outros lugares, com outras comidas talvez não tão complicadas como essa, com ingredientes que possamos facilmente produzir em casa.

- Mas, protestei, eu não entendo muito do assunto, não sou um perito! Ela fez uma carinha de quem estava se concentrando em algo.

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Eu senti um tremor percorrendo todo o meu corpo. Aí ela disse:
- Incrementamos os seus próprios conhecimentos sobre o assunto e agora você é um dos maiores peritos mundiais em comida!
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Eu deveria ter ficado surpreso, mas depois daquela sensação estranha, tudo o mais ficou natural para mim.
- OK! OK! Mas para isso, preciso saber que tipo de coisas, quero dizer, alimentos tanto vegetais e animais, que vocês possuem no seu planeta.
- É fácil! Vamos te fazer uma projeção mental.
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Novos tremores me agitaram. De repente minha mente foi invadida por imagens, cheiros e sabores estranhos e aí soube, quase instantaneamente o que era cada uma daquelas coisas. Descobri que em Sfiga, a atmosfera era um pouco mais rarefeita, os climas eram bem variados e semelhantes aos nossos, mas em matéria de comestíveis, só havia vegetais ou peixes. As aves não voavam pois eram mais pesadas que as nossas e o ar rarefeito não as suportavam.
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Nenhum animal terrestre, nem as aves tinham carne saborosa ou mesmo comestível para os Sfigatzis. Levei-os para conhecer um restaurante de frutos do mar ou vegetariano. Conhecia um excelente, ou melhor, vários, pois o que não faltava no Centro do Rio era bons restaurantes. Levei-os a conhecer um por um. Mas daquela vez foi um desastre. Eles estavam cansados desse estilo de comida, pois era só o que existia no planeta deles. Optamos em voltar ao “Carioca”.
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Primeiro, pedimos umas caipirinhas e chamei o Pedro à nossa mesa para conversarmos. Elogiei a sua feijoada do almoço. Isso fez com que ele sem perceber, imaginasse a receita inteira, o que foi instantaneamente captado por Bliza, que me agradeceu. Pequenos detalhes eu mesmo completei, com meus novos conhecimentos técnicos, respondendo a todas as dúvidas. A caipirinha também foi aprovada, o que me fez dar a Bliza a sua receita.
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Com meus conhecimentos ampliados, percebi que todos os nossos animais e vegetais se adaptariam com facilidade no planeta deles, portanto sugeri que os Sfigatzis, como eles se chamavam, levassem para o seu planeta, casais de suínos, bovinos e caprinos, de vários tipos de aves, além de todos os cereais além do feijão e arroz. Raízes como mandioca e também, cebola, alho, azeitonas, ervas para tempero, e dezenas de frutas. Acrescentei vegetais de vários locais do mundo, que se listasse aqui, teria de escrever várias páginas. Sugestão aceita, comprei numa boa loja, sementes selecionadas dos vegetais e manuais de cultivo. Os produtos importados, eu encomendei via Internet. Em cada manual, escrevi em qual região de Sfiga as sementes poderiam ser plantadas e em que época.
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Os azeites de oliva, teriam de ser levados enlatados ou em engarrafados durante alguns anos, pois o pé de Oliva, que é a árvore da azeitona é de longuíssima maturação e levaria muito tempo até que entrassem em produção.
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Sugeri que os vegetais típicos de Sfiga fossem usados em saladas, regadas com azeite e limão. Aliás disse para que eles dessem uma chegadinha a Portugal, para levarem sementes de excelentes azeitonas. Para os seus peixes sugeri que além de grelhados, fizessem sashimis e sushis.
(continua...)
Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com

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