sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CONTOS DO MUNIR 71 - VISITA-Final e Epílogo

Visita Final e Epílogo
A regra dos três “S” da boa presença: “Surgir, Sorrir, Sumir”.

(A regra dos 3 S vale não apenas para a boa presença, mas também é uma "arte da conquista" feminina!)

Fred sentia muito a falta de Nicole. Entretanto, sua busca não poderia parar. Tinha um prazo definido para seu retorno. As mensagens, recebidas nos seus desmaios, o lembravam sempre.
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Empreendeu só as caminhadas. Pouco antes do nascer do sol, cruzou novamente o Canal da Visconde de Albuquerque, uma subida íngreme pela Rua Aperana o levou até o local chamado Sétimo Céu. O dia sem nuvens. O crepúsculo matutino dourava o horizonte a leste. Estava em um platô de onde se via do Leblon ao Arpoador. O sol subia rápido iluminando o mar azul. Achou mais bonito que o por do sol, quando o pessoal na praia em Ipanema batia palmas.
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No platô, um memorial: Uma placa de vidro de quase dois metros e de grande espessura lembrava, com igual número de andorinhas em vôo, incrustadas em seu interior, as vítimas do acidente aéreo ocorrido em 2009.
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Foi almoçar, nesse dia, em um dos restaurantes da Dias Ferreira, um verdadeiro Pólo Gastronômico. Os melhores Chefs do Rio e São Paulo ali se fazem representar: CT, Sushi Leblon, Quadrucci, Carlota, Zuca, Doce Delicia, Manekineko e outros tantos. Alguns, até famosos, oferecem almoço executivo.
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Deixou para a parte da tarde os bares: Tio Sam, Belmonte e Azeitona, (lembrou-se que Nicole havia dito que no Carnaval sambara lá com uma passista da Mangueira), outro boteco também chamou sua atenção: o Chico e Alaide.
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Com Nicole ausente, estabeleceu uma rotina, tomava seu café da manhã, que era excelente, no hotel, caminhava até a praia, às vezes alugava a bicicleta ou ia a pé até ao Arpoador. Acabou se enturmando com os locais de lá, onde ficava conversando na praia, ou no quiosque de um camarada sempre mal humorado (achou que era por isso), chamado Napoleão.
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Seu almoço, quase sempre na Dias Ferreira, ou, caminhando um pouco mais, ia à Conde Bernadotte, repleto de bares e restaurantes, onde TVs transmitiam jogos de futebol de canais exclusivos. Um bar de sucos orgânicos era muito apreciado. Por receio, não quis experimentar.
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À tarde, ia ver se Nicole voltara, como sabia que ela gostava de Livrarias, passava pela Argumento, que também tem um Café nos fundos o Severino. Lá uma plaquinha indicava: Café do Próximo-2 (o dois escrito a giz). Perguntou o que era: “Uma tradição vinda de Praga, onde, certa vez, alguém deixara um café pago, para quem não tivesse trocado para pagar”.
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Em um sábado, ao voltar da praia, viu Nicole caminhando em sua direção, usava malha preta de ginástica, quase não quis parar. Fred insistiu para tomarem um café no Armazém. Ficaram ali conversando. Fred notou seu rosto marcado por duas manchas roxas, ela explicou: Era da máscara de esgrima. Parecia mais de agressão. Marcaram um lanche no Garcia & Rodrigues.
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A capacidade de recuperação de Nicole era incrível, quando veio as manchas roxas já não mais existiam.
Os dias seguintes foram de extrema alegria para Fred, Nicole conduzia Fred pelos locais mais atraentes do Leblon.
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À tardinha iam a algum bistrô, foram ao Stuzzi, Balada, Venga, Bracarense, nenhum dos dois tinha o hábito de jantar. Nicole gostava de comida japonesa, Fred só comia o que não fosse cru.
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Ao cinema, no Kinoplex do Shopping Leblon ou no Cine Leblon. Quando Nicole não gostava do filme, nada dizia, saía para comprar pipoca e comer do lado de fora.
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Certo dia, caminharam pela Ataulfo até ao Jardim de Alá. Fred contou dezoito farmácias, achou o local bonito, digno do nome. Alá talvez não estivesse contente com o tratamento dado àquele seu recanto.
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No retorno, viram os edifícios dos jornalistas, lembrou-se que o Cacá, um dos frequentadores da mesa da Pizzaria Guanabara, provavelmente o único não rico de dinheiro, mas milionário de coração, havia dito que morava ali.
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Entraram no Alemão e Nicole, abrindo uma exceção, dividiu com Fred um mil folhas (ela não comia doce).
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Já haviam saído juntos inúmeras vezes, Nicole sempre o acompanhava até a porta do hotel. Desta vez, disse querer subir. Fred ponderou que não valeria à pena. Sua rotina era desmaiar, ainda pelos efeitos da viagem, tão logo avistasse sua cama. Nicole, insistindo, subiu com ele.
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Como Fred havia previsto, deitou-se ainda vestido e entrou na espécie de coma que o acometia diariamente. O efeito duraria ainda por mais uma semana ou duas.
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Fred despertou ao raiar do sol infiltrado pelo blecaute da cortina.
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Estava nu, seu corpo untado com um óleo aromático, deitado em um lençol de cetim negro, os braços em cruz, os pulsos algemados na cabeceira do leito. Nicole, na borda da cama, os seios cobertos somente por suas melenas louras, a expressão inusitada e plena de felicidade, disse:
“Tive que prender você, estava muito agitado, receei que se machucasse, não se assuste, já vou soltá-lo.”
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Inclinou-se sobre ele, os braços estendidos para liberá-lo das algemas, o torso nu a tocá-lo. Fred sentiu o corpo de Nicole perfumado de óleo de morango.
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Fred viu, surpreso, na axila direita de Nicole o símbolo do anel incompleto, na fenda, três órbitas a se cruzarem. Perguntou a Nicole se sabia o que aquilo significava.
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Nicole iniciou sua história: “Meu pai era um Naturalista na terra em que nós nascemos. Foi o descobridor da vacina para vegetais comestíveis que acabou com os transgênicos e os orgânicos. Íamos para a Amazônia em busca de um fitoterápico. Uma forte tempestade solar nos fez mergulhar no oceano, nas proximidades de Fernando de Noronha, papai desapareceu, minha irmã caçula e eu fomos recolhidas por um helicóptero da Força Aérea. Alguns anos mais tarde, minha irmã, não resistindo às variações gravitacionais, veio a falecer. Casei, tive o menino que você viu, me divorciei.
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Agora... encontrei você!!!”
VISITA EPÍLOGO
Surgir Sorrir Sumir
Fred e Nicole estavam vivendo dias maravilhosos...
Entretanto, o tempo de permanência de Fred se esgotava. Recebia frequentes mensagens de alerta para que regressasse, corria o risco da impossibilidade de volta e a consequente perda de vida quase perene. Para Nicole a volta já era impossível, ambientada na terra, não suportaria a viagem.
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Fred, mesmo cativado por Nicole, optou por regressar. Forçou o rompimento e escreveu:



Resposta de Nicole para Fred
TERRA
Se a terra é boa.
Fique
Cultive-a
Plante a árvore
Veja-a nascer e crescer
Dar frutos
Espere
Até que estejam maduros
Para colhê-los
Eles serão saborosos
Suas sementes
Perpetuarão sua vida
Se a terra é boa
Conserve-a
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Madrugada de uma quinta-feira... setembro... Praça Antero de Quental... Leblon
Fred configura os sistemas de seu veiculo espacial para a longa viagem de regresso ...
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Fred abraça e beija Nicole...
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Ambos veem a partida da nave...vazia
Autor: Munir Alzuguir
E-Mail:alzumunir@gmail.com

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