sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG: O EFEITO JANELA cap 2

O EFEITO JANELA

Capítulo 2

Eu e Helena, após as horríveis confusões, retomamos nossos hábitos. Costumamos almoçar aos domingos fora de casa, pois é um dos dias que ficamos sem empregada. No nosso restaurante preferido, sentamos sempre à mesma mesa, que é servida pelo mesmo garçom há pelo menos 20 anos.
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Nossa mesa ganhou um bônus requintado, pois na parede em frente, foi colocada uma grande TV de tela plana de alta definição, onde são passados vídeos de shows da Broadway ou ainda melhores. Naquele domingo, aproveitando a boa surpresa, víamos o show LOVE do Cirque Du Soleil, que já havíamos visto há alguns anos em Las Vegas. Esse show tem como fundo musical uma trilha sonora só de música dos Beatles. Lembro que comentávamos como o Brasil perde por não fazer algo semelhante em homenagem à Bossa Nova. Não se passou mais que um minuto e o vídeo foi trocado por outro, do mesmo Cirque Du Soleil, porém com um fundo de Bossa Nova. Levamos um susto pela coincidência. O fato foi motivo de muitas conversas com amigos, que duvidavam do ocorrido.
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Na semana seguinte, fomos passar uns dias em nossa casa em Itaipava. Ela estava em obras após as graves inundações na Serra e devido a isso, resolvemos fazer uma muralha de proteção. Ao chegarmos, como sempre fazíamos, fomos antes a um Supermercado, para abastecer a casa. Encontramos lá um casal de amigos, Jorge e Mariana e fomos logo conversando sobre as novidades. Comentamos sobre nossas obras e descobrimos que eles tinham o mesmo problema e faziam obras semelhantes, o que era mais uma coincidência. E aí passamos a falar de nossos cães. Jorge nos disse que eles possuem um da raça Boxer. Eu me lembrei que há muito tempo não via um, pois acho que a raça saiu de moda. Nós nos despedimos e marcamos de nos encontrar à noite para jantarmos num dos deliciosos restaurantes da cidade, coisa que de fato aconteceu.
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Duas vezes ao dia, nós nos revezávamos na tarefa de passear com nossos cãezinhos, coisa que no Rio é geralmente feita pela empregada. Naquela tarde, era a minha vez de realizar essa tarefa. Não se passaram dez minutos e vi um Boxer, na coleira, sendo arrastado, ou melhor, arrastando a sua pobre dona, que quase caia com o esforço! Era a primeira vez, após muitos e muitos anos que havia visto um cão dessa raça; lá estava na minha frente o imponente animal, poucas horas após alguém comentar sobre a sua existência. Fiquei muito espantado e confesso que meu queixo caiu!
- O que é isso, meu Deus! Mais um episódio! Em apenas uma semana, já aconteceram vários!
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Helena minha esposa, quase não acreditou na historia e precisei lhe mostrar a foto do cachorro, que tirei com meu celular. Ela ficou como eu muito espantada. Mostrei também a foto para Jorge e Mariana, durante o jantar, e eles também acharam muito curioso que o cão que fotografei, era da mesma cor que o deles.
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De volta ao Rio, eu retornei à minha rotina, que é a de ir diariamente caminhar pelo Arpoador. É o privilégio que temos nós os aposentados. O festival de coincidências foi o assunto. Aproveitei para falar de outros episódios semelhantes, dos quais não havia dado importância e que haviam acontecido comigo nas semanas anteriores. As lembranças vieram à tona durante nossas conversas. Pedro, brincalhão como sempre sugeriu que já que eu estava com esse poder estranho, falássemos no nome de alguma atriz bem bonita, para que ela aparecesse. Tínhamos que aproveitar a sorte, não é? O Pedro sugeriu escolhermos a Paola de Oliveira, que era uma lindíssima atriz da TV Globo. Nós nos concentramos por alguns momentos e desejando a presença da atriz.
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Alguns minutos após falarmos, surgiu à nossa frente a própria Paola! Se um de nós estivesse comendo alguma coisa, engasgaria! Todos nós gritamos ao mesmo tempo, o que assustou a bela Paola, que veio perguntar o que estava acontecendo. Contamos a história, emocionados com o incrível evento e com a linda presença. Ela ficou entontecida. Pegamos autógrafos da bela e tiramos fotos, que comprovariam mais tarde o estranho acontecimento.
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Fui procurar o Dr. Paulo, um psicólogo amigo, para que ele me ajudasse a encontrar uma explicação. Contei os quatro episódios e ele me deu várias explicações:
-Sílvio, quando ouvimos, um nome ou um fato inédito, ou mesmo algo do qual há muito não ouvíamos, em nossa mente abre-se uma “janela”. Daí para frente toda vez que surgir aquele nome em algum lugar, notaremos imediatamente o fato e o interpretaremos como coincidência. Na verdade, aquilo sempre aparecia, mas sem nos chamar a atenção, pois ainda não existia a “janela”.
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Ao ouvir a palavra janela, sentia arrepios, pois estava ainda sofrendo com o pânico de alturas, porém achei interessantíssima a explicação dele, mas argumentei que isso só resolveria o mistério do Boxer, pois os outros três não se enquadravam. Pedi uma ajuda para me curar daquela fobia.
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- Esses fenômenos, você tem razão, são diferentes, mas há uma explicação para cada um: Você e a Helena, poderiam ter captado subconscientemente alguns acordes de Bossa Nova, antes de perceber que ela estava tocando. E depois, você acha mesmo que é uma coincidência, que várias pessoas façam obras após os desabamentos na Serra? Admito que o caso da Paola possa ter sido mesmo a única coincidência. Quanto à sua fobia, meu amigo, a única maneira de você se curar é encarar o medo; tenho um colega que é especialista no assunto e que usa essa técnica de enfrentamento.
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Saí dividido, com um endereço e telefone do especialista em fobias, e bem mais tranquilo do que quando entrei. O Dr. Paulo foi realmente brilhante e o efeito “janela” foi um fato novo que mostrou consequências daí para frente.
(continua...)
Autor:José Frajtag
E-Mail: josefrajtag@ymail.com

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