José Frajtag/josefrajtag@ymail.com
“Llama-me Ror-rre, por favor!”.
Céus! Era ela de novo. Eu estava nos dias anteriores à viagem, bastante irritado por esta mulher de carregado sotaque espanhol, que ligava por engano há semanas lá para casa procurando o “Ror-rre”. Ela, que pela voz me parecia ser idosa e bem esclerosada, ligava várias vezes por dia, não adiantando nada mostrar o erro. Ela retrucava meio chorosa dizendo: “Dios mio! Como debo hacer?”
Eu respondia carinhosamente, da primeira até a quinta vez, que a louca ligava, tentando resolver o seu problema.
Da sexta vez em diante parti para a ironia, porém não adiantou. Daí para frente, ela passou a ser uma personagem constante na família, quase uma tia distante!
Eu tinha vários pequenos problemas de última hora para resolver. Eles sempre aparecem justo antes de minhas viagens. Boa parte tem a solução adiada para após a volta, e me tira parte do prazer da viagem. Os telefonemas procurando o “Jorge” me tiravam toda a concentração, com isso os meus problemas tendiam a se acumular mais ainda. Ainda por cima tenho um projeto de última hora para entregar. Minha profissão tem esse lado ingrato. Às vezes fico semanas, totalmente disponível e sem nenhum trabalho, mas justo quando marco uma viagem aparecem dois ou três trabalhos simultâneos, que me deixam enlouquecido. E foi justamente o que aconteceu desta vez, justo quando ainda terminava um deles.
Eu tinha vários pequenos problemas de última hora para resolver. Eles sempre aparecem justo antes de minhas viagens. Boa parte tem a solução adiada para após a volta, e me tira parte do prazer da viagem. Os telefonemas procurando o “Jorge” me tiravam toda a concentração, com isso os meus problemas tendiam a se acumular mais ainda. Ainda por cima tenho um projeto de última hora para entregar. Minha profissão tem esse lado ingrato. Às vezes fico semanas, totalmente disponível e sem nenhum trabalho, mas justo quando marco uma viagem aparecem dois ou três trabalhos simultâneos, que me deixam enlouquecido. E foi justamente o que aconteceu desta vez, justo quando ainda terminava um deles.
Estávamos em 1985. Antes mesmo de viajar, como sempre, aliás, eu já andava indócil pela casa, pois tenho pânico de avião. Fico com dificuldade de dormir na noite anterior, mas no dia mesmo, embarco e vou numa boa. Também não consigo dormir durante o vôo. Minha sorte é que sou extremamente distraído, e isto acaba equilibrando o problema, pois muitas vezes acabo esquecendo-me de ter medo.
Iríamos eu e minha ex-mulher e passaríamos quase um mês fora. Iríamos nos encontrar numa das paradas da viagem com Oscar, um Arquiteto amigo nosso que mora em Los Angeles. Tínhamos então um gatinho siamês, o Igor. Por sorte nossa, Adélia, uma amiga que tinha enviuvado há três anos e vivia sozinha, resolveu fazer a gentileza de se oferecer para ficar lá em nosso apartamento, cuidando dele. Demos a ela o telefone de toda a família de minha mulher para alguma necessidade, até mesmo o telefone dos hotéis dos demais viajantes. Quase ao mesmo tempo, uma das irmãs de minha ex, médica como ela, tinha viajado para a Grécia para um congresso médico que lá haveria. Meu sobrinho Dudú, seu filho foi junto, acompanhando-a.
Chegamos a Los Angeles, vindos do Rio de Janeiro, num vôo com várias escalas. Largamos as malas no hotel, na verdade um simpático motel, na Hollywood Boulevard e fomos logo conhecer Beverly Hills, aonde vimos várias casas dos astros de Hollywood, passeamos na Rodeo Drive vendo as maravilhosas lojas e fizemos uma parada estratégica numa lanchonete chinesa do Farmers Market. Comemos camarões empanados, deliciosos e muito baratos.
Em L.A. resolvemos não alugar carro, por ser esta uma cidade gigantesca, cheia de enormes viadutos, muito complexa para dirigir. Optamos por táxis. No segundo dia, fomos aos maravilhosos estúdios da Universal, que são como uma mini Disneyland e ao Chinese Theater.
Ao sairmos da Universal, ligamos para a casa de Oscar, nosso bom amigo. Foi aí que chocadissimos soubemos do seu falecimento, que tinha acontecido na noite anterior.
Chegamos a Los Angeles, vindos do Rio de Janeiro, num vôo com várias escalas. Largamos as malas no hotel, na verdade um simpático motel, na Hollywood Boulevard e fomos logo conhecer Beverly Hills, aonde vimos várias casas dos astros de Hollywood, passeamos na Rodeo Drive vendo as maravilhosas lojas e fizemos uma parada estratégica numa lanchonete chinesa do Farmers Market. Comemos camarões empanados, deliciosos e muito baratos.
Em L.A. resolvemos não alugar carro, por ser esta uma cidade gigantesca, cheia de enormes viadutos, muito complexa para dirigir. Optamos por táxis. No segundo dia, fomos aos maravilhosos estúdios da Universal, que são como uma mini Disneyland e ao Chinese Theater.
Ao sairmos da Universal, ligamos para a casa de Oscar, nosso bom amigo. Foi aí que chocadissimos soubemos do seu falecimento, que tinha acontecido na noite anterior.
Ele brasileiro que vivia já há dez anos aqui em L.A. iria ser nosso cicerone. Pesarosos, resolvemos ir à capela mortuária onde ele iria receber as últimas homenagens. Fomos os primeiros a chegar. Assinamos os nossos nomes no livro de presenças e entramos na sala onde o caixão com o corpo de nosso querido Oscar que tanta amizade nos demonstrou ao longo desses anos. Ficamos lá aguardando a chegada dos demais parentes e amigos dele. Comecei a ficar absolutamente indócil, naquele ambiente fechado, querendo logo sair dali e prosseguir a viagem.
Observando bem o local, reparei que a sala era ultramoderna, “high tech” cheia de botões e luzes nas paredes. Não podendo me conter apertei um deles. Imediatamente uma ária de Bach, lindíssima, foi ouvida na sala. Distraídos pela música, deliciosa, só depois de uns minutos para o nosso terror, vimos que o caixão tinha começado a se mover, bem lentamente. Apertei desesperado outros botões para tentar reverter a besteira, mas foi inútil. Tínhamos vontade de gritar, mas o pânico fez em nós um estranho efeito. Vocês já tiveram um pesadelo em que se quer gritar, mas o som não sai? Pois foi justo o que aconteceu. Nossas gargantas se fecharam, e isto até que foi uma sorte. Uma porta de aço abriu-se na parede, por onde o caixão foi lentamente entrando. A porta se fechou e percebemos que eu tinha cremado o pobre Oscar.
Sem coragem de enfrentar as conseqüências, saímos de fininho, tendo o cuidado de antes limpar com um lenço tudo o que eu e minha mulher havíamos tocado e rasgar a pagina do livro de presenças que havíamos assinado. Passei um telegrama anônimo para a família explicando o “desaparecimento” do corpo. Incrivelmente, nada saiu nos jornais.
Nunca mais tive coragem de saber o que aconteceu depois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário