quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 7

PANCETTIS E PONTIACS
"Tudo que pinto é com amor.Só sei pintar com amor"
José Pancetti
Leonardo Viriato advogado de sucesso, filho de oficial da Marinha, herdara do pai quatro quadros que lhe tinham sido presenteados por José Pancetti, o pintor marinheiro. Eram três marinhas e uma figura: uma da Lagoa do Abaeté, outra de Itanhaém, a terceira de Mangaratiba e uma Figura de Mulher; todas óleos sobre tela dos anos 40, época em que Pancetti ainda estava na Marinha de Guerra.O advogado orgulhava-se das pinturas e também de seu automóvel importado, um Pontiac Firebird de duas cores e que ele acreditava não existisse outro igual no Rio de Janeiro.

Certo dia, em seu escritório, recebeu uma correspondência da Marinha,era um convite do Diretor do Arsenal Naval, convidando-o para um almoço no salão nobre. Na ocasião, haveria uma exposição de quadros de Pancetti. O Diretor pedia que ele trouxesse os seus quadros, seria uma forma de homenagear o Almirante Viriato, pai do doutor Leonardo, que ele muito admirava e tivera a honra de servir sob seu comando.
No dia marcado, o advogado arrumou no banco de trás do carro as três marinhas e como o outro quadro fosse um pouco maior, colocou-o no porta-malas. Seguiu para a Ilha das Cobras e estacionou seu carro no cais Norte nas vagas reservadas aos visitantes, retirou as marinhas e, ao se encaminhar para o salão avistou um outro Pontiac parado bem junto ao cais.

Aproximou-se curioso e notou que o automóvel era da mesma cor que o seu, na verdade não era só a cor, parecia mais que o seu carro havia sido clonado. Demorou-se algum tempo observando os detalhes do interior do veiculo e viu que em nada diferiam do seu, ao consultar seu relógio percebeu que estava atrasado, não daria tempo para pegar o quadro no porta-malas. O Diretor já havia se retirado da portaria e recebeu-o efusivamente no salão onde estavam os outros convidados. Os quadros de Pancetti já estavam expostos, a grande maioria de marinhas e a elas se juntaram as do advogado. Um coquetel foi servido e o doutor Leonardo, apreciador de scotch, notou alegre que os uísques eram de doze anos e em doses generosas. Uma hora depois iniciou-se o almoço. Cerca de quatro horas da tarde, o advogado guardava as marinhas no Pontiac e regressava para casa.

Parou o carro na garagem e foi retirar primeiro a pintura que estava no porta-malas, então, teve a surpresa:em vez do quadro, encontrou livros e uniformes navais. Ficou chocado ao ver que tinha pegado o outro Pontiac. Voltou apressado para o Arsenal, ao chegar notou que seu carro já não estava lá, pensou que o dono do outro Pontiac talvez tivesse cometido o mesmo engano. Foi procurar o Diretor para tentar esclarecer o ocorrido. Estava conversando com ele, quando chega o Capitão-de-Mar-e-Guerra (CMG)Cavalcanti, muito preocupado por ter visto o seu carro ainda no cais e receber a informação de que o navio-transporte, onde deveria estar seu automóvel, já havia partido para Salvador.O CMG Cavalcanti fora nomeado Chefe-do-Estado-Maior do Distrito Naval na Bahia para onde em breve seguiria. Depois de alguma conversa, a situação tornou-se clara, mas não resolvida. O Diretor conseguiu falar pela fonia com o Comandante do navio-transporte e ficou acertado que o Pontiac do doutor Leonardo seria desembarcado em Vitória. Quanto ao automóvel do comandante Cavalcanti, seria providenciado um meio de levá-lo o mais breve possível para Salvador. O Diretor disse ao advogado que seu carro seria trazido para o Rio, por um motorista da Marinha tão logo o navio atracasse em Vitória. O doutor Leonardo, muito ciumento de seu Pontiac e preocupado com a pintura de Pancetti no porta-malas, alegou que ele mesmo poderia ir buscar seu automóvel. O Diretor tendo em vista que o advogado era o maior prejudicado na história, se dispôs a providenciar para ele uma passagem de avião para Vitória, proposta que o advogado aceitou prontamente.
O doutor Leonardo foi à Vitória pegou seu Pontiac Firebird e seguiu para as areias da praia de Guarapari onde curtiu uma linda semana de sol.
Dizem que casou com uma capixaba.

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