domingo, 27 de setembro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 10

UMA SEGUNDA OPINIÃO

Foi no tempo em que o Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro tinha a sua oficina de velas. Lá era reparado, além dos equipamentos de marinharia dos navios, o velame do Navio Escola Almirante Saldanha, este mais tarde amputado de seus mastros “spruce” e deformado em navio oceanográfico.
A oficina de velas estava em pintura e o material , panos, mastros e mesas de trabalhos foi retirado , levado para o cais, abrigado em um galpão.


Perto dali, atracado, um contratorpedeiro, comandado por um oficial de apelido incomum, de férrea disciplina, incluindo-se aí o cumprimento da Ordenança.
Ninguém sabe como o fogo se iniciou no galpão.

Eram 7:30 da manhã; o Mestre da oficina bem que tentou acionar o novo caminhão de bombeiros recém- comprado pela Marinha, que demorava a chegar.
O oficial de serviço do contratorpedeiro, tendo terminado recentemente o curso de combate a incêndio, resolveu, sabiamente, debelar o fogo.
Foi para o cais com alguns marujos levando uma bomba P-500. Dirigindo a faina, conseguiu, com sucesso, apagar as chamas que já ameaçavam as velas sobressalentes do Saldanha.

O sino de bordo havia soado as 8:00, Hora da Bandeira. O Comandante chegou a bordo e não foi recebido com o protocolar apito.
O oficial de serviço se encontrava no cais e apressou-se correndo para o navio para saudá-lo. Ao aproximar-se foi surpreendido pelas palavras do Comandante: o senhor está preso!!!
Por que Comandante?
Por ausentar-se do navio estando de Serviço!
Estava apagando o incêndio ali no cais!
E se o incêndio fosse em Copacabana, o senhor iria até lá , com certeza! Recolha-se ao seu camarote.


Acontece que o Almirante, Diretor do Arsenal, tomara conhecimento da ocorrência e enviara um oficial ao contratorpedeiro para cumprimentar e elogiar o navio, seu Comandante; oficiais e guarnição pela iniciativa e êxito no combate ao fogo.

O Comandante empertigado em seu pirulito, chamou o tenente e disse: na verdade o senhor deveria ser preso, mas é sempre bom ouvir uma segunda opinião. O senhor está solto e elogiado.

Nota: a referencia ao Saldanha é feita por razões de afetividade, expressa a opinião talvez única do autor.Que me perdoem os hidrógrafos. Os personagens são fictícios e qualquer semelhança pode ser mera coincidência.
Pirulito é como se denomina o uniforme branco fechado até a gola e de botões dourados.
O Comandante, conta a lenda, tinha sua fotografia na entrada de um bordel no Rio Comprido e certa vez compareceu a uma cerimônia com as calças do uniforme manchadas de permanganato.Dai seu apelido.
Na Marinha de Guerra a Bandeira Nacional é hasteada as 08:00 horas e arriada ao por do sol.

Um comentário:

  1. Adoro historia desse navio que tenho fotos e estou a fazer uma tatuagem no braço pra homenagear meu pai e o navio que ele passou uma parte servindo e ate hoje lembra de muitas aventuras e viagens a bordo do Almirante Saldanha!!
    Meu Pai é o Sub Tenente da reserva JOSÉ CONCEIÇÃO LEITÃO

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