sábado, 12 de novembro de 2011

CONTO DO JOSÉ FRAJTAG - Parte 3

George

Capítulo 3


No disco seguinte Revolver, eu me impus um pouco mais e consegui colocar Taxman, porém embalado pela inspiração, quase em seguida fiz Love You To, com instrumentos indianos, tocados por mim e pelo Ravi Shankar, meu amigo indiano e I Want To Tell You. John e Paul não tiveram como recusar. Nesse disco apareceu a música Dr. Robert, que me fez reviver as lembranças da minha vinda. Para combinar com meu novo estilo, mandei redecorar a fachada de nossa casa com pinturas psicodélicas.

Naquele final de 1966, eu continuava firme com a minha deliciosa Pattie e o Ringo se mantinha bem com sua mulher Maureen, mas desde a minha vinda, as relações de John e Paul com suas mulheres balançavam, e as relações internas também não estavam muito boas, mas procurávamos manter as aparências para o nosso público. Quem seria louco de naquele momento pôr tudo a perder?

Em outubro de 1966 eu já estava tão integrado que quase esquecia que eu era Charles Beckham. Mas volta e meia a memória voltava e então ligava para minha mulher para saber como Charles estava. A resposta sempre era de que a situação continuava a mesma. Ela chorava e eu a consolava da melhor forma possível. Um vez fui a um florista e pedi para lhe enviar 10 dúzias de rosas amarelas. Naquele mês o John e a Yoko foram presos por estarem portando maconha. Corremos para a delegacia par ajudar e conseguimos que eles apenas pagassem uma multa. Um nota preta! Foi a gota dágua que acelerou o divorcio de John e Cynthia.

Levaria quase um ano para eu escrever de novo. O estilo indiano fez tanto sucesso que passei a usar com frequência, como a musica que escrevi em 1967 Within You Without You, que entrou em dezembro daquele ano, em Sgt. Peppers. A capa do disco, que era muito rebuscada criou os rumores idiotas nos quais Paul estaria morto. Essa série de gravações seguidas nos desgastou muito. Paramos um pouco e após um grande intervalo, durante o qual fizemos alguns shows aqui e ali.

Quem morreu mesmo e nos deixou arrasados foi o Brian Epstein, e foi assim que soubemos que ele usava drogas pois foi um overdose que o levou.

Em 1967, escrevi Blue Jay Way, que entrou no divertido Magical Mistery Tour, escrevi também com inspiração indiana. Eu fui me tornando pouco a pouco um Hare Krishna, pois essa filosofia religiosa me ajudava muito a entender a minha dualidade.

Para relaxar de tantas loucuras e tentar a recuperação do grupo, passamos uma longa temporada na Índia, em 1968 onde frequentávamos sessões de meditação transcendental com o meu conhecido guru Maharishi Mahesh Yogi, que me ajudaram muito a aceitar a minha louca condição. Melhorei na viagem o meu modo de usar vários instrumentos típicos indianos, que já tinha usado e usei em várias outras músicas que escrevi. No entanto, o guru estava mais a fim de pegar a Mia Farrow, que estava lá conosco, do que realmente meditar. Isso me fez largar as sessões antes do tempo. Se ao menos ele pegasse a Yoko, ao menos a gente se livrava dela.

Ao voltar para Londres, aonde cheguei antes dos demais, eu soube que agora tínhamos um selo para os nossos discos. Tinha sido formada a Apple Records e logo no fim do mês teríamos de gravar um disco, que ficou conhecido como o White Album, que tinha sido quase todo composto na Índia. O John Lennon estava super inspirado e em pouco tempo, ele e Paul escreveram quase trinta musicas lá mesmo. O fato é que para ganharmos tempo, escolhemos a capa mais simples possível: Completamente branca! Fiz para o disco, uma canção chorosa, bem apropriada para o que sentia na época, da qual gostei e parece que o público também: While My Guitar Gently Weeps, na qual pus Eric Clapton para tocar conosco, mas as outras três, Long, Long, Long, Piggies e Savoy Truffle, confesso que as fiz, muito rápido sem trabalhá-las o suficiente, pois precisava ter algo com meu nome no White Album; não gostei do resultado e sofri muito por isto, porém sem elas o disco seria 100% John & Paul! Nosso público, entretanto aceitava tudo que tivesse a marca Beatle e as críticas foram surpreendentemente boas.

As coisas não estavam nada bem. John, que sempre implicava comigo e me criava problemas para encaixar minhas músicas nos LPs, parece que também não gostou delas e passou a me dificultar mais ainda.

Paul, que ao contrário de John, era um grande amigo, me disse que estava se separando da sua noiva de muitos anos, Jane Asher, pois tinha se apaixonado pela Linda Eastman, que lhe foi apresentada pela minha Pattie, fotógrafa como ela. Logo em seguida em 22 de agosto o Ringo nos deixou na mão durante as gravações do White Album. Só depois de muito paparico conseguimos que ele voltasse. Pusemos até flores na sua bateria para a festa da volta.

Em 1968, logo no dia 2 de janeiro começamos a filmar Let It Be. Eu já sentia pelo clima ambiente que seria uma de nossas últimas apresentações. Como parte da filmagem, nós nos apresentamos no teto da Apple na Saville Row.

Em 1968 e 1969 parti para um experimento ousado lançando dois álbuns solo: Wonderwall Music, de 1968, e Electronic Sound, de 1969. O primeiro com músicas instrumentais foi trilha sonora do filme homônimo. O álbum contou com a participação de Ringo Starr e Eric Clapton. Todos, inclusive eu usamos pseudônimos, devido a problemas contratuais. O segundo, considerado um álbum experimental, trouxe várias músicas tocadas em sintetizador Moog e uma capa com um desenho feito por mim.

Fiz na época uma música para Pattie, Something, com intenção de afastá-la do Eric. Ela adorou. Demorei muito para burilá-la e ela acabou sendo lançada quase um ano depois, mas valeu a espera, pois a crítica a considera minha obra prima.

Em março de 1969 eu e a Pattie, fomos flagrados com maconha! Se eu e ela fossemos um casal qualquer, estaríamos fritos. Pagamos uma nota e nos soltaram, mas não pudemos ir ao casamento do Paul com a Linda. No dia seguinte fomos ao de John que casou com a Yoko em Gibraltar. Depois eles na Holanda fizeram aquela palhaçada de ficar nus na cama pela paz. O Paul e a Linda ficaram putos, pois tirou bastante do brilho do casamento deles. A loucura do John chegou ao ponto de mudar o seu nome do meio de Winston para Ono. Depois disso, ficamos muito tempo sem gravar e só percorrendo o planeta com shows. A situação do grupo ia piorando a cada um deles.

Lançamos Abbey Road em setembro de 1969, com gravações que eu já tinha feitas, como Something. De novidade, também minha, havia Here Comes The Sun. Sem falsa modéstia sei que poderia ouvi-las com orgulho até o fim de minha vida. Logo após, John nos deixou, e eu também me afastei, mas nada disso ainda tinha sido passado para o público, pois tínhamos de respeitar o contrato, ou nos teriam feito pagar muito caro. Em maio de 1970, daquele ano, um mês após a saída de Paul de nosso grupo, ainda conseguimos nos reunir para gravar o ultimo LP; o nome seria Get Back, que significa “Volta ou Retorno”, mas acabou sendo Let it be, que profeticamente significa “Deixa Estar”. Foi a última esperança, mas frustrada de relançar a banda. Para esse escrevi e cantei I me Mine e For You Blue, que também me deram muito orgulho e foi o fim de tudo!

Poucos dias após gravarmos I want you, uma das faixas, no dia 22 de agosto, eu e Pattie fomos à casa do John em Berkshire, a oeste de Londres, onde foi o nosso último encontro como Beatles. John morava muito longe. Rodamos depois mais de 100 km pra ver a nova filhinha de Paul e Linda, Mary McCartney, na casa dele em Saint John's Wood, que ficava ao norte. Podíamos nos separar, mas ainda éramos amigos.

(continua...)

Autor:José Frajtag

E-Mail: josefrajtag@ymail.com

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