segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 21

O GATO FILÓSOFO

Era uma vez um gatinho que foi abandonado em uma floresta.Bem perto existia uma montanha onde havia muita neve.O gatinho era de cor preta, bastante escura e manchinhas brancas ao redor dos olhos. Não tinha raça definida.Na verdade era um gato vira-latas. Se fosse um gato persa ou angorá teria sido vendido para alguma artista chique ou alguma emergente.
Na floresta viviam macacos, pacas, caititus, cachorros do mato, cobras e lagartos, onças, muitos passarinhos, ursos e lobos. Não tinha nem leão nem tigre nem elefante nem girafa e nem camelo.

O gatinho sentiu-se muito só e começou a chorar de fome e medo.
Os macacos, pulando no alto dos galhos das árvores, só olhavam, sem dar bola para o recém-chegado. As cobras e lagartos estavam dormindo e nem sequer acordaram. Os caititus estavam muito ocupados, sujando seus colares brancos, fuçando a terra úmida à procura de alimento; nenhum deles pensava em abandonar o bando e sair dali para ver que bichinho gritador era aquele, todos com medo da onça.Os poucos cachorros do mato estavam longe dali caçando passarinhos.


Um urso grandão, que havia descido a montanha, ficou curioso em saber quem gritava de forma tão diferente dos sons da selva.Foi-se aproximando até ver o gatinho. Ficou muito confuso ao ver uma cria muito parecida com as suas, por causa das manchas brancas em volta dos olhos e que ele também tinha.
Esse urso é chamado “urso de óculos” por causa justamente dessas olheiras. Foram elas que salvaram o gatinho, pois o urso o agarrou pela boca e o levou para a sua caverna onde ficou abrigado.
A mãe ursa, que estava amamentando seus filhotes, acariciou o bichano e o juntou aos seus ursinhos.

O gatinho não podia crescer igual aos seus irmãos ursos, mas foi ficando muito esperto e aprendeu muitas coisas que só os bichos do mato sabem. Assim ele começou a pegar peixes no lago e se tornou o melhor caçador e pescador da floresta.Caçava e pescava para toda a família, era alguém importante.Observando os outros animais na mata, começou a perceber que era diferente de todos eles. Os outros bichos também notavam isso, porém, como ele era muito ágil e escapava de todos botes e armadilhas, passaram a respeitá-lo, ainda mais que a família urso corria a defendê-lo.
O gatinho foi crescendo e sentia uma falta muito grande, que não sabia dizer do que era. Ficava muitas vezes quieto e pensativo lá no fundo da caverna, onde morava com a família urso. A mãe ursa também ficava triste com isso, mas não sabia o que fazer. Imaginava que era a falta de uma companheira, mas os bichos mais parecidos que havia por ali eram as jaguatiricas maiores e ferozes.

O gato então começou a se perguntar por que era o único daquela espécie na floresta. Como tinha aparecido? Apesar de o urso grande já ter contado a história de como o tinha encontrado...
E foi então que ele quis saber de onde teria vindo, porque havia sido salvo e se estava ali só para ajudar a família urso a comer peixe. E cada vez mais curioso ficava. E tinha sonhos estranhos...Que a mãe, o pai urso, seus irmãos ursos eram todos do mesmo tamanho que ele. Brincavam de rolar pela terra, de puxar fios, de caçar passarinhos, de cair dos lugares mais altos sem se machucar e de fazer outras coisas que só gatos fazem.
Dizem que a indagação leva à sabedoria. Na verdade o gato sabia cada vez mais da vida dos outros animais, mas não conseguia decifrar o enigma da sua.
Um dia, depois de muito filosofar, resolveu pedir ao urso grande que o levasse até ao local onde havia sido encontrado. Lá chegando, trepou em uma árvore muito alta e à noite viu o clarão das luzes da cidade. Decidiu ir até lá...

Passado algum tempo, depois de quase ter sido atropelado, esquivar-se de um pontapé, levar algumas pedradas, escapar de uma bala perdida, respirar gás lacrimogêneo e fugir de um pitbull, encontrou uma gatinha pela qual se apaixonou. Perguntou se ela não gostaria de viver em um lugar não tão violento.

Voltaram para a selva e foram morar perto da família urso e criaram seus próprios filhos.
O gato parou de filosofar...

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