segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 23

DELEGACIA DE POLÍCIA
O Zezinho era porteiro do prédio onde eu guardava meu fusca.
Um dia chegando de uma cerimônia militar, uniformizado, ele me pediu par a dar uma força na 14*DP, onde se encontrava preso o seu tio e padrinho, há mais de dois dias. Perguntei qual tinha sido a causa da detenção, a resposta foi que numa batida policial o tio subia a Niemeyer às três horas da madrugada e fora apanhado por estar sem documentos.
Ele, Zezinho, já havia levado para a delegacia a identidade e a carteira profissional de seu “dindo” e mesmo assim não o soltaram.
Sua tia estava desesperada. Já estava faltando pão. Ele me solicitava, então, se eu não poderia ir até lá falar com o delegado.
Acreditando ser justo o seu pedido, ainda mais que o Zezinho era muito boa praça, resolvi ir com ele na mesma hora.
Chegamos na 14ª no Leblon, é bem perto de casa. Fomos prontamente atendidos, naquela época os militares gozavam de bom prestígio.
Perguntamos pelo tio do Zezinho; o delegado nos disse que existia um problema. Aquele senhor já havia sido detido anteriormente no mesmo local. Explicou: naquela ocasião portava um facão ensangüentado, informação que a Central lhe havia transmitido.
Aborrecido, inquiri o Zezinho sobre isso; espantado disse desconhecer o fato.
Insisti com o delegado para apurar mais o assunto. Ele entrando em comunicação com a Central obteve a resposta de que aquele caso já havia sido esclarecido. Que o facão tinha sido usado para degolar uma galinha preta em um despacho preparado pelo tio e por isso fora logo libertado naquela vez. O delegado se prontificou a soltar o padrinho do porteiro. Mandou um policial buscá-lo.
Ele chegou muito zangado, ao me ver, falou que o seu sobrinho não tinha nada que incomodar o comandante. Parecia muito descontente em ter que sair da cadeia e continuava a reclamar do Zezinho.
Achando estranha a sua atitude, solicitei ao delegado se ele poderia me esclarecer o que estava acontecendo. Sorrindo ele me disse que o tio se oferecera como voluntário para liderar a faxina da delegacia que era feita pelas moças recolhidas, à noite, nas avenidas Vieira Souto em Ipanema e Delfin Moreira no Leblon.
Que a tia do Zezinho poderia esperar um pouco mais...

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