quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CONTO do BRUNO ALZUGUIR BOTELHO

CIÚMES
Autor:BRUNO ALZUGUIR BOTELHO
Hoje pela volta do meio dia, fui tomar um táxi naquele ponto da Praça Serzedelo Correia, em Copacabana. Quando me aproximava do ponto um carro me chamou a atenção. Era um lindo Alfa Romeu, vinho, da década de 60. Com certeza deveria ser o único no Rio de Janeiro.
No táxi, como de costume, entreguei o mesmo bilhete ao taxista. Provavelmente pela décima vez naquele mês. Ia à Rua José Linhares, no Leblon. Aquilo já virara rotina.
O bilhete eu tinha pegado do chão. Havia caído do bolso de uma linda moça, loura, por volta de seus vinte anos. O endereço era de seu apartamento.
Na primeira vez que fui lá, o fiz movido pela curiosidade: quando cheguei, interfonei para o apartamento e ela, inesperadamente, com pura inocência me deixou entrar. Seu apartamento era curioso. Havia bilhetes e diários por todos os lados. Ao chegar, ela me perguntou com alegria – “Quem é você, nos já tínhamos combinado?”- Sua beleza me hipnotizou, movido pelo instinto menti. Inventei uma história. Disse que já tínhamos nos conhecido e que falara que a encontraria naquele dia. Ela parecia confusa, mas, inacreditavelmente, aceitou minha palavra. Começamos a conversar. Ofereceu-me vinho e comida. Depois fomos para a cama e foi um dos melhores dias da minha vida.
Depois, cansados, voltamos a falar e questionei o porquê de todos aqueles bilhetes pregados pela casa. Ela me explicou que sofria de perda de memória recente e lembrava tudo que tinha feito e do que tinha que fazer pelos bilhetes. Aquilo tudo era perfeito. Quando ela foi dormir, simplesmente retirei o bilhete que falava sobre aquela noite e assim, poderia desaparecer quando quisesse.
Nos dias que fui lá, sempre via o Alfa Romeu passar perto do ponto de táxi. Aquele deveria ser meu amuleto da sorte.
Hoje eu voltaria àquele apartamento e repetiria tudo que tinha feito nas ultimas semanas. Eu adorava. Chegando lá, vi o lindo carro vinho estacionado na frente do prédio – parece até perseguição. Entrei no apartamento sem problemas, já tinha até a cópia da chave. As luzes estavam apagadas e as janelas fechadas. Não ouvi barulhos. Mesmo assim caminhei intuitivamente até o quarto. Quando entrei no aposento me senti aterrorizado e enojado.
Havia sangue em toda a cama, sai e corri em direção à porta, tentei abri-la, mas não consegui. Nesse instante ouvi aquela voz peculiar perguntando – “Quem é você, nos já tínhamos combinado?”. Acalmei-me, e comecei a repetir aquela rotina infalível. Estava com pressa e pulei algumas etapas, fomos direto ao sexo no sofá. Como sempre ela acreditou em mim e não hesitou.
Depois, quando estava saindo, acendi a luz para procurar minhas roupas. Olhei para minha affaire, e meu sangue gelou. A imagem não era de quem eu esperava. Uma mulher mais velha, loura e muito parecida com a dona do apartamento. Ela estava um pouco suja de sangue. Em cima da mesa tinha a chave com o escudo da Alfa Romeu. Meus pensamentos cessaram quando ela falou - “Sou tão boa quanto minha filha?”.

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