sábado, 3 de outubro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 11

O TORPEDO

Era comprido de uns três metros de comprimento, cilíndrico, reluzente, parecia de bronze, em sua cauda tinha um hélice, na outra extremidade uma ogiva pintada de amarelo, normalmente carregada de explosivo, em tempo de paz era cheia de água que se esvaziava por ar comprimido ao final da corrida. Funcionava por turbina a álcool, tinha um giroscópio para manter sua direção, corria em velocidade maior que a dos navios de sua época, segunda guerra mundial. Era o terror dos navios de superfície, especialmente quando era lançado de um submarino. Os contratorpedeiros também os lançavam contra outros navios. Na Marinha Brasileira eram de procedência americana.

Esta é a historia que vamos contar: o tenente encarregado do armamento e de lançar o torpedo tem relativa importância, uma vez que, parece, o torpedo adquiriu vida, criou sua própria personalidade e seu comportamento foi quase racional, traçando seu rumo e selecionando seu alvo.
Era um exercício de adestramento, o torpedo veio para bordo acompanhado de técnicos de avental branco, ferramentas complicadas abriram suas entranhas e começaram uma operação cirúrgica. Meu companheiro, o tenente encarregado do armamento era um atento espectador.

Nosso contratorpedeiro já se encontrava na raia definida para o lançamento.
O comandante ansioso para mais uma experiência
O comandante com o problema de tiro resolvido para atingir o alvo; um flutuante situado a duas milhas, puxado por um rebocador. Seria uma trajetória reta no sentido navio alvo.
O navio já havia corrido a raia de lançamento pela terceira vez. Aguardava-se apenas o pronto do torpedo que parecia gemer ao exalar seus suspiros de ar comprimido.
Nosso tenente era o responsável pela operação. Na justa hora em que subiu a escada de acesso ao passadiço e se apresentou orgulhoso para pessoalmente informar que o torpedo poderia ser lançado, ouve o comandante já com a paciência perdida, dizer, quase gritando, para o oficial de operações chamar “o incompetente encarregado da faina”. A continência de meu companheiro estava a meio caminho e o “pronto comandante” saiu logo em seguida. Foi sincronismo.

Naquela época eram raros os helicópteros, um avião monomotor da Força Aérea era o observador do tiro. Finalmente o torpedo é lançado. Inicia sua corrida.

O vigia dá um grito alarmante: torpedo a bombordo!
O torpedo em vez de seguir sua normal trajetória reta em direção ao alvo faz uma curva louca para a direita passa pela nossa popa, continua seu giro, aumenta a velocidade e vem direto para atingir nosso navio.
O comandante guina pede máquinas adiante a toda força em uma verdadeira manobra evasiva. Ainda dá para ver sua esteira.

Outro berro do vigia: torpedo pela proa!
Nova manobra evasiva, o comandante suplica gritando: máquinas atrás flank, o torpedo desaparece.
O clímax só é atingido quando o observador aéreo, codinome “ÁGUIA” manda pelo radio: “Parabéns pelo tiro, o torpedo está fazendo círculos perfeitos, repito, círculos perfeitos”.
O comandante rubro levanta os braços com os punhos cerrados e parece que ouvimos um palavrão.
Não aconteceram mais gritos dos vigias e nem a voz de “ÁGUIA” pelo rádio. Ainda ficamos algum tempo procurando o torpedo.
O jornal “O GLOBO” publicava no dia seguinte:

Quando encerrávamos esta edição, as autoridades navais eram informadas que um barco de pesca havia recolhido um grande torpedo, intacto, em alto mar e o levara para a Praça Quinze. Foram logo determinadas providências para apreensão do engenho de guerra”.

Um comentário:

  1. qual a conclusão da marinha pelo fato do torpedo ter tido" vida própria"?
    esse torpedo era americano , mesmo????
    heloisa

    ResponderExcluir