domingo, 4 de outubro de 2009

CONTOS do JOSÉ FRAJTAG - 3

Viagem de um arquiteto - parte 3
José Frajtag/josefrajtag@ymail.com


Ao retornarmos ao nosso Hotel Powell, de San Francisco recebemos recado de Dudú, nosso sobrinho, que telefonava da Grécia e dizia para ligarmos urgente para nossa casa no Rio, pois ele achava que tinha havido um assalto.

Mais do que depressa, ligamos e falamos com Adélia, que tomava conta de tudo, que depois de nos tranqüilizar dizendo que nada de mal tinha acontecido, nos explicou o ocorrido: Acontece que a velhinha espanhola tinha ligado novamente chamando o “Ror’rre”. Adélia, que nada sabia da sua existência, lembrou que Dudú, nosso sobrinho, chamava-se Jorge Eduardo. Achando que o “Ror’rre” fosse ele, deu-lhe o telefone da Grécia.

A pobre da velhinha ligou para lá, falou com Dudú, dizendo que a casa dela tinha sido assaltada. Ai foi a vez de Dudú achar que era ela quem tinha ficado na nossa casa. Foi uma confusão que terminou com mais um telefonema para a Grécia e muitas gargalhadas.

No dia seguinte estávamos com carro alugado e viagem marcada para Yosemite Park (a pronuncia é estranha - Yossémiti). Para aproveitar bem o pouco tempo que nos restava, tivemos de sair de San Francisco às 3h da manhã, para iniciar o passeio. Tontos de sono, mas confiantes iniciamos o trajeto. O que não sabíamos é que em San Francisco ocorrem pesados nevoeiros, onde não se enxerga mais que dez metros da ponta do carro, isto mesmo se fosse de dia. Devido a isso, eu que estava no volante, dirigi com velocidade reduzidíssima até ultrapassar a região da névoa. Quando estávamos saindo dela começamos a ouvir um estranhíssimo barulho. Vocês imaginem, isso era às 4h da manhã, escuro como breu, com neblina e nós com sono. Nos meus devaneios achei que fosse uma esquadrilha de helicópteros ou, quem sabe, de discos voadores, pois o som era muito estranho mesmo. Aos poucos fomos conseguindo enxergar e fiquei impressionado. Centenas ou mesmo milhares de moinhos de vento, rodando para a produção de energia elétrica. Nada tinha lido a esse respeito. Só lá é que soube da sua existência, num tremendo susto.


A aventura ainda teve mais uns lances de emoção, pois descobri que a estrada que pegamos foi a pior alternativa possível. Só soubemos disso ao chegarmos a Mariposa, uma deliciosa mini-cidade (Que tinha na época uns cinco mil habitantes no máximo) junto ao Parque. A estrada que pegamos era estreitíssima, cheia de curvas violentas, em ladeira e ao lado de abismos colossais. Naquela escuridão e com o sono que eu sentia, começou a ficar perigoso. Não tive alternativa, senão tirar meia hora e dormir num acostamento para aguardar o dia clarear e para me recuperar um pouco. Ao acordar as coisas ficaram mais fáceis e conseguimos chegar sem problemas a Mariposa. Lá nos hospedamos num simpático hotel familiar, o “Mariposa Hotel”.

O parque de Yosemite vale quaisquer sacrifícios necessários para lá se chegar. Aqui existem sequoias um pouco diferentes das de Muir Woods. Estas daqui são extremamente grossas alem de altíssimas.
Uma era tão grossa, que tiveram uma grande ousadia (Certamente um crime ecológico, mas um crime que compensou!); Há quase cem anos, quando não havia essas considerações ecológicas, escavaram um túnel numa delas, a Wawona, que permitia a passagem de dois carros simultaneamente. Esta árvore acabou caindo vitimada por um raio, há poucos anos, ficando de lembrança apenas os seus destroços. As paisagens são deslumbrantes, muitas são usadas naqueles posters murais que ficaram tão em moda. São locais que nos levam a profunda contemplação.


No parque está a “El Capitán” Uma montanha rochosa que parece cortada à faca. É muito usada pelos malucos americanos que daqui saltam de parapente, ou de “bungee jump”, com aquelas tiras de borracha presas ao corpo. Existem muitos lagos, várias cascatas, sendo que uma delas é a segunda ou terceira mais alta do mundo, lindíssima, e fica bem perto da “El Capitán”. Na saída Oeste do parque, num lugar chamado “Tuolomne Meadows” atinge-se de carro uma altitude de 3500m.


Voltamos à S. Francisco. Desta vez pela estrada correta, graça a indicação da dona do hotel de Mariposa. A nossa intenção era ir em seguida para Las Vegas. Na agência da Varig fomos confirmar a etapa seguinte, que seria ir à cidade do México, daí a dois dias. Quase caímos no chão de susto, pois soubemos que lá tinha havido um terrível terremoto e o nosso hotel tinha sido destruído. Escapamos da morte. Depois de absorvido o impacto da notícia, tristes com a enorme perda de vidas, ligamos para os pais de minha mulher, para minha mãe, para Adélia e para a irmã de minha ex. na Grécia, que a essa altura preocupadíssimos com a falta de notícias já nos julgavam mortos ou feridos. Ficamos muito tristes pelos Mexicanos, porem determinados a aproveitar que ao menos nós estávamos vivos. Isto nos deixou eufóricos. Alteramos o trajeto para terminarmos a viagem em Miami. O seguro de viagem nos ressarciu mais tarde dos prejuízos.
Abraços de José Frajtag

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