segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CONTO DO MUNIR - 13

A BOMBA
Anos 50

Segundo-esquadrão de contratorpedeiros em exercícios no mar. A bordo, na chefia das divisões de máquinas, operações e armamento, segundos e primeiros-tenentes, sem curso e experiência. A baixa geral dos aspirantes em 1948, somada ao acréscimo de um ano nos cursos da Escola Naval deixaram um buraco no quadro de oficiais.

Manhã de sol. Mar tranqüilo. Os navios já voltavam para o Rio, vinham do Norte. Em Recife, lençóis brancos agitados nas janelas das casas próximas ao cais expressaram, na partida, o amor e a saudade das moças da terra pelos marujos.

A próxima escala seria em Salvador. A formatura – a tradicional “Form-Uno” - navios em coluna, intervalos de 1500 jardas. Posições rigorosamente cobradas pelo Comandante da Força, que não poupava os que se afastavam do figurino. Comandantes e Imediatos se revezavam no passadiço. Os comandantes a reclamarem dos “quatis-rabudos” * que tinham a bordo.

De repente o contratorpedeiro Boiquira, último navio da coluna, dá uma guinada brusca para bombordo e aumenta a velocidade. Seu comandante percebera que do contratorpedeiro Beribá, navegando a sua proa, havia caído uma bomba de profundidade. A explosão e a enorme coluna de água foram observadas pelo través de boreste do Boiquira.

Felizmente, graças a providencial manobra os efeitos foram mínimos. Consistiram em descarga de fuligem acumulada nas ventilações e que sujaram o interior do barco. O oficial de armamento do Beribá testara o circuito das espoletas dos morteiros lançadores e a espoleta, por si, fora suficiente par arremessar a bomba. O Comandante da Força determina por rádio que não se realizem mais testes em viagem.

Os navios atracam em Salvador, o CT Beribá junto ao cais e o Boiquira a seu contrabordo. O oficial de serviço do Boiquira já se encontrava no convés, de pirulito*e pemba*, quando uma correria se estabelece. Alguns marinheiros passando do seu navio para o Beribá, buscando o cais. Um deles grita que uma bomba caíra na popa.

O tenente corre para lá e vê: todas as bombas amarradas com grossos cabos de manilha. Um morteiro sem a bomba, o cabo partido. Seu companheiro, o oficial de armamento, diz que a bomba está em “safe” *, não havendo risco de explosão, diz também que como o navio não estava mais em regime de viagem resolveu fazer o teste.

A bomba imóvel no fundo a oito metros de profundidade. O oficial de armamento do esquadrão dá o parecer de que não há risco da bomba explodir. O oficial de armamento da esquadra considera o ineditismo do fato e informa:- “a bomba poderá vir a explodir em um tempo não determinado, dependendo das diversas condições latentes”.

Na popa um grupo de meninos se divertia a pegar no mergulho moedas atiradas pelos marinheiros que lá ficaram. Um sargento pergunta se eles conseguiriam ir até o fundo e amarrar um cabo na bomba. Dois logo se apresentam, dizendo ser a coisa mais fácil do mundo. Acostumados a apanhar estrelas do mar para turistas, os meninos mergulham como peixinhos. Logo retornam contando o que tinham avistado. Um guincho é armado. Os garotos mergulham levando a ponta de um cabo. Voltam e fazem sinal para puxar. O que sobe é um latão de tinta enferrujado, no fundo há muito tempo.

Nova tentativa ia ser feita, quando chega a equipe de mergulhadores da Base, paramentada de roupa de mergulho, pés de pato, lanternas e tudo o mais. Dão uma mãozinha para os guris. Finalmente para alívio geral a bomba é trazida de volta. O que não livrou o tenente, dono da bomba, da cadeia.

N.R: apelido dado aos segundos-tenentes recém-embarcados
N.R: apelido para uniforme branco, dólmã.
N.R: apelido para o armamento de cintura, uma pistola colt.
N.R: posição travada, não explodirá.

Um comentário:

  1. Seus contos são muito bons. Você já pensou em reuni-los num livro?

    J.Marcos Sobral

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