sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CONTOS DO MUNIR - 12

NÓS MARCIANOS

Quando chegamos, vindos de Marte em nossas naves, viemos sem nossas mulheres. Uma estranha bactéria dizimara a população feminina.
Na Terra a correspondência do tempo nos permitiria viver quase que infinitamente, embora em Marte já tivéssemos quase que atingido a vida eterna.
Lá não era necessário morrer para ceder espaço para os descendentes, não só por marcianos habitarem na linha divisória do espaço-tempo, como também pela nossa tecnologia em viajar para outras galáxias.
Em nossa viagem, a logística providenciara alguns embriões femininos que seriam cultivados in-vitro na Terra, pressupondo que naquela atmosfera não seriam afetados. Entretanto, a cápsula que os continha rompeu-se quando um dos pára-quedas retardadores do choque falhou e os invólucros espalharam-se,mergulhando no oceano, tornando impossível o resgate.
Todos nós marcianos embarcados na nave, sentimos uma grande alegria ao ver na tela de nossos monitores que as mulheres da terra eram belas e correspondiam quase que aos nossos padrões de beleza, porém mais magras. Verdade que os vídeos só mostraram as modelos que pareciam anorécticas.
Os cientistas, encarregados da análise espectral, ficaram contentes ao verificar que poderíamos perpetuar nossa espécie nesse novo mundo.
Contudo, eles projetaram em seus visores o futuro cenário desalentador de nosso relacionamento com as terrestres. Chegamos à desilusão, que, a exemplo do que já havia acontecido numa fábula tibetana terrestre, elas envelheceriam enquanto nós iríamos permanecer jovens e nossos filhos não herdariam a genética marciana.
Na lenda tibetana, revelada pela consulta aos arquivos de nossos computadores, os monges que lá viviam tinham o segredo de retardar o envelhecimento, adicionando rúcula em suas refeições, segredo esse que não era compartilhado com ninguém. Nem com suas esposas. Elas envelheciam e morriam antes. Os monges casavam-se outras vezes.
Para preservar seu mistério, os monges cultivavam a rúcula juntamente com a venenosa cicuta; ambas têm flores brancas e aqueles que os viam colhendo invejavam sua juventude e, não sabendo diferençá-las, cometiam suicídio involuntário.
Até que um dia um jovem monge apaixonou-se por sua mulher e dividiu com ela seu segredo, para que assim ela o acompanhasse até a morte. Foi expulso do Templo, mas o segredo já havia vazado.
Logo percebemos que não seria nossa solução e, apenas, parcialmente poderíamos retardar o envelhecimento de nossas companheiras, com a prática dos ritos tibetanos.
Daí criarmos a Ordem dos Guerreiros Marcianos-OGM. Organização de caráter aparentemente machista, mas, que tinha por missão prolongar ao máximo a beleza das mulheres e fazer cumprir o juramento de entrarmos em estado cataléptico quando a morte delas se aproximasse para criar a sensação que enviuvavam. A OGM arranjaria nossa transferência para longe, aonde o processo continuaria.
Muitos, a exemplo do jovem monge tibetano, apaixonados que ficaram por suas esposas, manifestavam o desejo de quebrar o juramento e morrer de verdade.
O que só fomos saber, passados três séculos, é que o mar, essa eterna fonte de vida da terra, foi lentamente abrindo alguns dos invólucros perdidos em nossa viagem inicial, que continham os embriões femininos, suprindo-os com os requisitos necessários à conservação da vida até que um acaso os levasse a um porto seguro.
Hoje, algumas marcianas estão por aí. Estamos ansiosos que elas um dia encontrem seus pares.
Ps:Procurar ritos tibetanos no Google

Um comentário:

  1. "eu não acredito que haja marciana na terra!!!
    se a capsula rompeu-se, elas foram dizimadas. o que acho é que os marcianos querem induzir os terráqueos ao erro'rsrsrs
    achei interessantíssimo esse conto
    helosinha

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